Essa morte besta e absurda, aliás, inominável, que nos levou a perder o nosso grande cartunista Glauco. Lembro-me nos anos 70 de sua figura sempre presente no nosso meio artístico, com aquele jeitão que era muito nosso jeito de ser na época, com cabelos compridos, barba, bolsa a tiracolo, sandálias, estilão meio hippie. Certo dia levou-me à sua casa, junto ao seu irmão Orlando, para mostrar-me sua produção, criando uma charge ali na minha frente, olhou uma manchete de jornal e em apenas alguns poucos minutos fez uma charge em atitude brincalhona, tripudiando com o assunto exposto do jornal.
Às vezes nos encontrávamos em algumas exposições e no Salão de Humor de Piracicaba, tendo-o freqüentado desde a sua primeira versão em 1974, sempre fazendo companhia ao Washington Lopes, que enviava o seu cartum para concorrer todos os anos. Eu era só curtidor e como se diz, estava ali para dar "apoio moral" o meu negocio era pintura e desenho (não cartum). Foi motivo de muita alegria quando Glauco foi premiado no IV Salão para os nossos loucos da cidade.
Em 1977 tendo em minhas mãos o espaço de uma lanchonete, no centro de Ribeirão Preto, montei um espaço cultural para exposições, com todo apoio da Secretaria da Cultura, pelas mãos do saudoso professor Antonio Palocci, que se prontificou a nos atender em tudo que precisasse. Como já relatei antes nesse espaço as referencias da exposição de John Howard nessa "galeria", fizemos também uma dos cartunistas da cidade: Glauco, Pelicano e Washington, intitulada como "Exposição de Humor", que foi um sucesso e inovadora também, pois nunca ninguem havia feito uma exposição de cartuns antes. Glauco acabava de ganhar o IV Salão de Piracicaba naqueles dias. Nessa época o pessoal daqui batalhava muito para conseguir publicar suas tirinhas de quadrinhos e charges nos jornais da cidade, existia certa resistência local, davam preferência aos que vinham de fora, já consagrados. Glauco foi pra fora e se consagrou. Aliás, santo da casa não faz milagre.
Ao ver a noticia ontem me senti muito triste e emocionado, pois Glauco era assim daqueles caras puro de coração e como disse Bernardo Ajzemberg hoje na Folha de São Paulo, “Seu olhar era sempre sorridente, infantil”. Sem contar que seu talento dificilmente será superado.