quinta-feira, 26 de maio de 2011

Francis Bacon Grafiteiro

Na saida da Galeria Uffizi em Florença tive a surpresa de encontrar pintado nos tapumes de restauração externa do museu esse grafite. Achei genial! Um grafite a lá Francis Bacon.

domingo, 1 de maio de 2011

EDUCAÇÃO DE-FORMADORA


Ensinar arte para adultos nos ensina muito sobre a criança que cada um carrega em si. E ensinar arte para crianças nos ensina muito o que, nunca, deveríamos aprender para ser adulto. Ensinar arte para adolescentes nos ensina o que exatamente devemos frear com o aprendizado e o que devemos estimular na percepção.
Estou querendo dizer que aprendemos tudo errado. Depois de muitos anos dando aulas no ateliê, percebo o quanto os adultos ficam travados na criatividade e no impulso de experimentar e na capacidade de perceber, enriquecendo os sentimentos e a sensibilidade qualificando desta forma o universo cognitivo. A educação civilizatória castradora dos adultos é a barbarização de nossa essência humana.
A educação oficial que se vê por aí no ensino de Arte, transforma crianças criativas e sensíveis em adultos inseguros, medrosos e sem expressão.
Quantas vezes, eu presenciei a iniciação artística no ateliê e vejo que os adultos chegam com concepções erradas sobre arte, mas o pior é que são concepções passadas pela Escola e muitas vezes pelos pais, que confunde na formação dos alunos, como o ideal da Arte é a ideia de elaboração, de bonitinho, de arrumadinho, bem acabado. Mas arte não é elaboração externa, é elaboração interna a qual nos aperfeiçoa e nos forma sentido do e no mundo e nas coisas que vivenciamos.
Certa vez fui convidado a ser júri de um salão de arte em uma cidadezinha que mantinha forte, ainda, suas tradições que vinham do homem do campo, do cortador de cana, enfim, sua formação rural. Esta cidade tinha por tradição artistas naifs, muitos ficaram bem conhecidos, famosa pelos seus artistas bóias-fria.
O salão se dividia em setores: adultos, jovens e crianças. As premiações deviam, também, atender a esta ordem. Éramos três jurados, e foram bem harmônicas e convergentes nossas escolhas, os critérios de seleção foram coesos e bastante satisfatórios.
No dia da abertura, eis a surpresa que acontece: fazendo-me presente no coquetel, fui procurado, então, por uma professora que se sentia injustiçada, pelos seus alunos que estavam participando. Pois, os trabalhos que foram premiados eram muito inferiores aos de seus pupilos. Se eu poderia dar alguma explicação do que ocorreu.
Topei a parada e lá fui eu para a “inquisição”. Eram diversos trabalhos de vários de seus alunos. Lá estavam eles: realmente bem acabados, bem emoldurados, bem elaborados e só. A idéia de cada trabalho ficava até em segunda plano obscurecida pela técnica quase impecável na execução dos mesmos. Foi ótimo para mim o ocorrido, pois verifiquei com isto o que aconteceu no Ensino de Arte. Os quadros pareciam algo próximo de “feitos por uma mesma pessoa”. E, foram feitos mesmos, de uma maneira indireta, pela batuta da professora, mas confeccionados pelos alunos. Fui mostrando as semelhanças para a professora: uma determinada forma em um, se repetia no outro, as cores eram sempre matizes dos mesmos matizes e para as mesmas situações de figuração, como por exemplo o céu, a terra, etc, sempre iguais na cor e na concepção, e fechando o assunto olhei as molduras eram todas iguais, não que tivesse importância isso, mas serviu para ver o grau de semelhança plástica entre os quadros. Ela foi obrigada a reconhecer e revelar: isto é normal, pois eles fizeram na classe juntos. E...sabe como é: um pergunta para o outro, um olha o do outro. Mas pode ver que as idéias são diferentes, cada um é cada um. Disse-lhe, de volta, que o que importava no julgamento era a criatividade e não o acabamento bem feito, e que a parte de expressão estava ofuscada por essa outra parte. Mostrando-me, então um premiado indagou: Como este pode ser premiado se a perspectiva esta errada, a pintura esta borrada, fora dos contornos do desenho tremido, e com falhas de pinceladas?
Ao que respondi: De fato, portanto o artista se expressou como conseguiu, como pôde, pôs suas idéias para fora sozinho e sem interferências. E deixa-nos intrigados quando olhamos o quadro. A perspectiva está errada mesmo, mas é como ele intuiu e não como alguém disse para fazer, assim ou assado. É o limite da capacidade técnica de sua idade. Não viemos para julgar o bonito e arrumadinho, mas o mais criativo e expressivo.
A professora pareceu aceitar meus argumentos e nos despedimos. Passei um último olhar na exposição e confirmei o acerto da premiação, inclusive da ala adulta que, para nossa surpresa quando chegou à exposição era uma senhora com Síndrome de Down, da cidade de Batatais, e o 1º premio em dinheiro, o que iria ajudar muito a instituição onde era cuidada, a APAE daquela cidade.
No meio de tantas telas acadêmicas, bem elaboradas, bem emolduradas, mas sem nenhuma criatividade, temáticas de sempre se repetiam: vasos com flores, natureza morta, paisagens, ou modernosos abstratos. O quadro vencedor foi atípico: um auto-retrato da artista que se representou de corpo inteiro pintando uma tela dentro do quadro. Tudo na mais total desproporção. Muito expressivo e criativo apesar da pouca técnica.
Fiquei pensando muito nisso tudo na viajem de volta. Será que estaria fazendo a apologia da falta de técnica, do amadorismo? A valorização do errado? Qual errado? Qual o certo? Ou seria a valorização da expressão legítima, da percepção individual, sem as barreiras da razão e da técnica?
Ao chegar em casa escrevi uma frase num caderno de anotações: “Todo adulto quer transformar uma criança em seu grau de adulteração” Fiquei pensando muito na educação formal, nos conceitos que são seguidos pela escola e na pedagogia institucionalizada como escola.
Fiquei pensando na professora e na certeza que ela tinha de estar fazendo o melhor e o mais certo. Como estava fazendo de fato, dentro do pensamento estabelecido na sociedade. No entanto, nada mais fazia do que formatar aquelas crianças para ter a visão, o pensamento e as vontades dos adultos. Dando-lhe apenas pré-requisitos para o desenvolvimento da linguagem oral, escrita e lógica. Não artística. Quando se sai da linguagem padrão e lógica, racional, não é mais aceito pelo mundo dos adultos.
Fiquei pensando no valor exagerado que é dado na sociedade para o desenvolvimento do lado esquerdo do cérebro, no valor do pensamento lógico, no Apolíneo e o Dionisíaco de Nietzsche, na metafísica Socrática, no mundo das verdades absolutas de Platão, e para fechar toda reflexão, nas declarações de Picasso em seus últimos anos de vida, que perseguia em cada nova obra a forma de expressão pura como a de uma criança. Chegando a conclusão de que quanta mentira inventaram para a humanidade para o fortalecimento do “poder” dos poderosos, no sentido mais darwiniano do termo.
Mas isto é outra história: o importante nessa minha investigação é desvendar os mitos criados e institucionalizados em nome da educação e civilidade do homem, ou seja - A formação de adultos inseguros, confusos e sem criatividade. 


Obs: Se usar esse texto colocar a autoria : Miguel Angelo Barbosa