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domingo, 22 de agosto de 2021

SEMANA DE PORTINARI

            Estudando por muitos anos História da Arte faz com que a gente tire algumas conclusões sobre a Arte e os artistas, as quais ficam depois impressas pra sempre.

       Em Ribeirão Preto tive o imenso privilegio de ter uma amizade próxima do artista e fotografo Francisco Amêndola. Nas nossas muitas conversas sobre arte, ele sempre com seu senso prático, dizia frases que ficavam como lições, para posteriormente criarem sentido dentro de um contexto maior de aprendizado com a vida.

            Uma delas que sempre dizia era que: Arte é um segredo que é passado de mão em mão.

        Ficava intrigado com isso. Pensando comigo que talvez ele estivesse sendo um pouco exclusivista. Pois Arte é de livre acesso como todos os bens culturais. Que segredo seria esse? O da fama do artista? O "pulo do gato" do artista? que seria passado de artista para artista com exclusividade?

            Amêndola era um artista pragmático e tinha convicções por muitas coisas, as vezes era irônico, mordaz, mas sempre sincero, doa se quiser. No seu espirito notívago muitas vezes encontrávamos num balcão de algum barzinho e ficávamos trocando ideias até tarde da madrugada, ou seja, eu aprendendo mais que tudo.

         Em meados do século XIX o pintor Gustave Courbet seguia as regras de representação da Academia francesa, portanto com sua visão pessoal, em dado momento transgrediu as propostas temáticas e o teor da mensagem que passaria através de suas telas. Na famosa obra “O Ateliê do Artista”, de 1855, cria o rompimento com a arte alegórica e religiosa  do passado, fazendo nesta obra uma alegoria a sua própria vida, que demonstra explicitamente sua concepção egocêntrica da vida. Colocando a sua direita as pessoas amigas e importantes da sociedade e a esquerda os “outros”, em sua próprias palavras “Aqueles que cujas vidas poucos importam: o povo, os destituídos, os pobres, os ricos, os explorados, os exploradores, os que especulam com a morte." E ainda pelas suas próprias palavras seu quadro era uma “alegoria real” daí o nome dado ao momento estético que se seguira: o Realismo. Passando essa maneira de enxergar os porquês da arte para Manet e em seguida no desafio de pintar uma paisagem do real para Monet e os demais impressionistas que vieram depois, enredando todo esse passar de mão em mão até chegar nas vanguardas do século XX, cada mão que pegava colocava sua contribuição e passava pra frente com modificações

             Assim como os artistas gregos do período de Péricles passaram para o futuro império macedônico de Alexandre, o Grande, a ideia e a técnica para atingir o belo através da sagrada proporção e em seguida para o império Romano, após a derrocada deste império, percorrendo assim um longo período da história antiga os cânones da beleza clássica, criando suas particularidades ao ser passado de mão em mão, ou seja, de cultura para cultura. Referendando aqui a ideia do Amêndola conforme colocado acima.

           Após essas considerações vamos agora a “Tradicional” Semana de Portinari que acontece anualmente em nossa vizinha e querida cidade de Brodowski, para homenagear nosso grande artista Candido Portinari.

        Essa festa das artes, que neste ano de 2021 chegou a sua 46ª edição, tendo, portanto, iniciado em 1976. Tornando uma feliz tradição cultural, graças ao esmerado empenho da direção e funcionários do Museu Casa de Portinari (não citando ninguém especificamente para não fazer diferença, pois sinto que todos são fieis ao grande projeto), o que transformou aquela que, era apenas uma casa visitada dos amantes da arte, num Museu maravilhoso de alto nível de conservação e qualificação internacional.

            Achei em meus arquivos aqui, minha primeira participação se deu em 1996. Mas bem antes, em1984, já tive contato com o Museu no projeto “O Artista da “Quinzena” criado por Pedro Manuel Gismondi, fazendo uma pequena exposição lá. Desde então a Semana teve pequenas alterações no modelo original, mas nada significante dentro do proposito da Semana de Portinari.

            Lembro-me até hoje minhas primeiras tentativas de ser pintor. Meu cunhado José Cerri que tinha habilidades em marcenaria, vendo meu interesse pela arte, me fez umas telas de saco de estopa. E na primeira que fez em seguida já fui pintando uma cópia de uma obra de Portinari. Eu acho que intuitivamente o contato com o estilo dele, o cubismo, a geometrização das figuras, foi o que me pegou. Muita vontade tinha de pintar, mas “non have money”, tentava várias coisas, nos suportes mais variados que surgissem a minha disposição, com qualquer tinta também que achasse pela frente. Estou falando aqui da faixa de idade que tinha que era entre 10 e 12 anos.
            Eis que me aparece uma saída. Meu irmão mais velho, José Rui me levou para conhecer o Leopoldo Lima. Que otimo! Material de custo insignificante para realizar obras, caixotes de pinus onde vinham as “manzanas argentinas” para vender na feira, um ferro quente para queimar a madeira, e mais adiante conseguindo um formão para entalhar e um pirógrafo para modelar a fogo as figura. Pegava minha bicicleta, e lá ia até a rua André Rebouças no bairro Ipiranga ver o Leopoldo trabalhar. Passava horas ali com ele vendo talhar sua obra. Olhar sempre carinhoso e sorridente comigo. Só de ver aprendia.

                                         
            La com ele aprendi que “Fazer arte é se fazer feliz”, primeira grande lição.

            A medida que fui crescendo e conseguindo comprar tintas passei inicialmente a pintar minhas pirogravuras e depois passei para suportes de compensados de madeira e logo em seguida para a tela. 
Nessa passagem encontrei obras de Siqueiros, muralista mexicano, em um dos seus murais "Cuauhtemoc contra o Mito", ele põe duas esculturas pintadas ao pé do mural, ou seja, duas pedras esculpidas conforme as figuras abaixo.

              
Fiz então uma ponte, pensando nestas figuras, entre a pirogravura e a pintura (não restando nenhuma imagem da minha obra obra) e mais alguns outros como “O corpo bêbado e a garrafa vazia” que ainda possuo uma foto (abaixo a direita).
  
      Mas logo logo achei meu caminho pelo cubismo e expressionismo, observando Portinari, Marc Chagall e os muralistas mexicanos. Mais adiante fui achar Picasso e com isso, pelos meus meios intuitivos, encontrei minha forma de expressão artística.

            
  
   A partir de 1995 passei a compartilhar minha experiência artística montando cursos no ateliê. Ou seja, passando para as mãos dos meus alunos o que sabia.

  Aí que entra então a Semana de Portinari, que, quando acontecia, chamava meus alunos em peso para compartilhar dessa festa ao grande artista brasileiro. Na pintura mural eu tinha que funcionar como um maestro. Pensava num tema pictórico e subdividia os espaços e as funções para execução de cada um. 

  Sendo convidado há vários anos para participar, acabei criando muitos amigos na cidade e com todo o pessoal do Museu. A valorização da Arte e dos artistas estabelecida a tantos anos pelo projeto de fomento da ACAM - Associação Cultural de Apoio ao Museu Casa de Portinari, me faz sentir orgulhoso e homenageado indiretamente pela maneira que é proposta a Semana. Onde o mais importante é a participação aberta e de coração a todos que quiserem prestigiar a Arte. Não há politicalhia, ou concepções teóricas demagógicas que privilegia esta ou aquela maneira de fazer arte. Deixando de lado os vícios teóricos e críticos. Apresentando-se como uma Festa das Arte, simples assim e ponto.

           A resistência ao longo de muitos anos da direção do Museu para não mexer nesse modelo, torna a Semana cada vez mais um espaço seguro de manifestações artísticas de alto astral dos participantes, os quais assim como eu não gostam dessa areia movediça de egos, onde mais importante e ficar na disputa, do que comparecer com o espirito festivo e aberto que a arte proporciona, se assim quiser.

Para fazer a ligação de tudo que foi dito acima com a frase do Amêndola, “Arte é um segredo que é passado de mão em mão”, podemos dizer em relação a isto que o que o Museu e sua administração faz é construir pontes para os novos artistas para ali buscarem num mesmo lugar sua expressão artística, pela convivência, interatividade e ainda a valorização da Arte pela Arte. Podendo assim se situarem sem obstruções críticas e desdéns intelecto-ideológicos. Sendo também um verdadeiro fomento para a criação de novos admiradores, amantes da cultura e possíveis novos artistas. Passando da memória de Portinari que esta impressa em cada tábua do assoalho e em cada parede agora milimetricamente preservada nesta grandiosa “capela da arte” Museu Casa de Portinari, para nossas futuras gerações .

                Com certeza para Candinho, pela sua personalidade, os dois lados do quadro de Courbet seria importante pra ele, pois tinha o olhar carinhoso tanto para com seus amigos próximos como para os trabalhadores da terra, excluídos e retirantes que incansavelmente retratou com a expressão de um grande lavrador da Arte. 
            Sendo assim, o segredo (do Amêndola) era não ter segredo, só estender a mão. Como também não ter lado de preferência, todo ser humano tem seu valor.
           

PINTURA MURAL 46ª SEMANA DE PORTINARI  2021 - BRODOWSKI



                                                                             




segunda-feira, 2 de julho de 2012

Artistas da sobrevivência, no Renascimento Italiano

Para quem pensa que existiu só artistas do cacife de Leonardo, Miguelangelo e Rafael no Renascimento, se enganam. Eis o que nos conta Peter Burke em seu livro "O Renascimento Italiano":
Giovanni Caroto
"Em alguns poucos casos, artistas e escritores tinham ocupações um tanto surpreendentes, para não dizer bizarras. O pintor Mariotto Albertinelli foi durante uma Época, estalajadeiro (assim como Jan Steen, na Leiden do século XVII). O pintor Niccolo dell'Abbate, assim como os humanistas Platina e Calcagnini, foi soldado. Outro pintor, Giorgio Schiavone, vendia sal e queijo. O sócio de Giorgione, Catena, parece ter sido vendedor de drogas e especiarias, e Giovanni Caroto de Verona possuía uma farmácia; essa combinação de arte e drogas pode ser explicada pelo fato de algumas farmácias venderem materiais artísticos. Os irmãos Fogolino combinavam seu trabalho de pintores com o de espiões para os venezianos em Trento. Antonio Squarcialupi tinha um açougue alem de tocar orgao e ser compo­sitor; Domenico Burchiello era barbeiro além de poeta cômico. Mariano Taccola era notário além de escultor e engenheiro. Os dramaturgos Giovanni Maria Cecchi e Anton Francesco Grazzini eram respectivamente comerciante de lã e farmacêutico. Essas ocupações são um alerta para que não atribuamos uma condição social elevada demais aos artistas e escritores do Renascimento."

 
Mariotto Albertinelli
Giorgio Schiavone
Domenico Burchiello
   
Antonio Squarcialupi
Jan Steen


Jan Steen é um capitulo a parte, pois não pertence ao Renascimento Italiano, mas de Leiden, Holanda, já período Barroco, século XVI, enquadrando-se no estilo de Pintura de Gênero. Pintor que descreve as muitas de suas historias certamente vivenciadas em sua taberna, com muitas cenas de embriagues e mesmo orgíacas. Seu cachorro sempre assistiu a tudo pacientemente sem saber o que estava acontecendo, como aparece em quase todas suas obras.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

PROPICIAR O ALIMENTO E A FECUNDIDADE

Inicio de ano. Desejos mútuos de prosperidade, etc, leva-me a pensar quão antigo isso é. Quantas ações e acessórios nos investimos para propiciar-nos um futuro melhor, ou seja no caso, o ano vindouro, ou melhor ainda, o ano novo que já estamos. A ideia de magia sempre fascinou o ser humano, desde os tempos mais remotos. Os amuletos, as imagens e os rituais propiciatórios são tão antigos quanto a humanidade. Começar com o pé direito, usar roupa branca, são tantas formas de celebrar. Tudo é valido para propiciar. Como por exemplo faziam os homens da pré-história. Para propiciar a caça, para não faltar o alimento mais importante, a carne, que tal um quadro de um bisão na salão principal da caverna?
Será o que isso representa hoje em dia? O São Benedito na cozinha? Ou quem sabe aquela cestinha de cereais que adornam os cantos das copas e cozinhas?

Como também uma estatueta da matrona da tribo, grávida, as chamadas "Vênus Esteatopígicas", poderá propiciar novos membros para a família humana em formação?
Como um amuleto para propiciar a fecundidade.


                   
      Vênus Willindorf                              Vênus  de Laussel                          Vênus de Lespugue   


Nota: Nomeadas Vênus por serem o ideal de beleza de época, pois a beleza era o que significavam por estarem gravidas. Foram encontradas muitas estatuetas pelos quatro cantos do continente Europeu.
  
Como consciente coletivo do paleolítico a ideia de prosperidade se materializou na ideia de fecundidade, pois sendo maior a raça humana, maior seu poder sobre a natureza  e isso representa maior segurança entre seus membros, por conseguinte menos medo para enfrentar a vida, gerando mais conforto nessa terra hostil e selvagem de nossos ancestrais pré-históricos.
A Lua, a grande “loba”, que engravidava todas as mulheres nas noites de lua cheia. A noção de fecundação através do coito como temos hoje em dia não existia nesses remotos tempos do paleolítico. Pois o clarão das noites de lua cheia atrapalhava o sono de nossa aldeia primitiva, tornando mais hábeis em seus ataques o lobo e os animais noturnos vorazes por carne humana . Então o que há de se fazer? Muito facil!: Festa na aldeia! Rituais propiciatórios com direito a dança e muito sexo que acontecia espontaneamente. Mas quem fecundava era a lua, entenderam? Pois as mulheres logo apareciam com os sintomas de gestantes. Ai valeu o ritual, foi alcançado o objetivo. O amuleto guardado dentro de seu abrigo natural ajudou muito.Viva a lua (cheia)
Texto de Miguel Angelo Barbosa
(se usar esse texto colocar os créditos do autor)

domingo, 4 de dezembro de 2011

Pintura indireta / Claro-escuro / Barroco

"O incrédulo São Tomé" de Caravaggio
A relação entre claros e escuros nos remete ao período da Historia da Arte do período Barroco, onde os artistas para atenderem aos pedidos da Contra-Reforma precisavam criar obras que impressionavam o expectador levando-o a uma santa comoção. Para tanto era montado toda uma cenografia em seus estúdio para engenhar suas obra. Aliás, há historiadores que atribuem o inicio da Arte Cenográfica nesse período. O que podemos constatar na obra de  Caravaggio e Rembrandt van Rijn, entre outros.
Judite Decapitando Holofernes - Caravaggio
"Abraham e Isaac"de Rembrandt
 "Elevação da Cruz"de Rembrandt
Observem acima que os olhares dos personagens não cruzam com a cena, estão mirando fora do foco, isso demonstra que os modelos eram pintados individualmente


O uso do alto contraste: claro-escuro, foi muito oportuno pelos artistas, pois além de criar uma atmosfera emocional no resultado final do quadro, em muito ajudavam aos artistas na elaboração de seu trabalho. Apesar de terem à disposição os modelos de sua cena pictórica, esses não precisavam estar o tempo todo presentes, podendo alternarem-se de acordo com a necessidade. 

Os retratos coletivos como “A Ronda Noturna”, "Aula de Anatomia", também desenvolveram-se assim. Sendo que na fixação do desenho inicial faziam todas as marcações dos campos de luz e sombra, o que facilitava muito a execução posterior da obra, sem precisar o modelo estar presente o tempo todo. Pois, a luz artificial do estúdio, fixa e focada no modelo em muito ajudava a criar esses campos de claro e escuro. o que os historiadores da arte deram o nome de pintura indireta, ou seja sem a presença direta do modelo. A obra era realizada em varias seções de pintura; tinta fresca sobre tinta seca; tinta "gorda" sobre tinta "magra"

Aula de Anatomia

A ronda noturna
 Os Síndicos das Guildas
Vemos uma tentativa de mudança da técnica em Frans Hals, onde percebemos pinceladas mais alla prima, ou seja, uma camada de tinta era aplicado sobre a outra antes de secar. Passando então, a uma maneira direta de pintar, ou seja, com o modelo presente no  estúdio para terminar o retrato numa unica seção. Mas somente em meados do  século XIX essa técnica se consagra, tornando-se uma escola, a Impressionista, onde os artista trabalham fora do estúdio com a luz natural mutante.





Observe a marca das pinceladas mais evidente nos retratos de Frans Hals


Texto de Miguel Angelo Barbosa
Se usá-lo colocar os créditos 

sábado, 10 de julho de 2010

"O Colosso" não é mais de Goya

Sempre que olhava essa obra de Goya ficava pensando em um Goya eclético. Aliás, evadia-se até mesmo nos temas e saía do Goya convencionado por ele mesmo. Mas quando olhava essa obra pensava, que o tratamento espacial dado  a ela divergia um pouco, com isso mais admirava o ecletismo do artista, precursor da Arte Moderna (23ª Bienal Internacional, da Desmaterialização da Arte, lembra?)
Depois da constatação pelos restauradores do Museu do Prado que essa obra não é de Goya, não muda minha admiração pelo artista, vai apenas no lugar a minha intuição. Nem a obra deixa de ser uma gigante na história da arte. Que seja de seu discípulo: Asensio Julia, que deve ter respirado bem a inspiração do ateliê do mestre.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Jan Steen


Jan Steen,(1626-1679) - Leiden, Holanda. Contemporâneo de Rembrandt e Vermeer, o artista administrava uma taverna, e as cenas ébrias que presenciava serviam de modelo para suas obras, muitos dos quais eram membros de sua própria família, como também o próprio artista se auto retratava nessas cenas. Ser artista e dono de boteco são duas coisas que não podem dar muito certo, mas olhem como ele fazia bem as duas coisas, divertia-se observando e retratando o clima caótico e animado dos personagens. Observem como capta no semblante o que os figurantes estão sentindo. 
Pertence ao estilo Pintura de Gênero.
Obs: o cachoro quase sempre presente, com o ar de quem não esta entendendo nada.