NO ESPAÇO CULTURAL MIGUEL ANGELO
EXPOSIÇÃO HISTÓRICA EM RIBEIRÃO PRETO
COMEMORAÇÃO DOS 100 ANOS DA SEMANA DE ARTE DE 1922
OBRAS, EVENTOS, PARTICIPAÇÕES ARTÍSTICAS, MEMÓRIAS, PENSAMENTO E REFLEXÕES ESTÉTICAS E DE HISTÓRIA DA ARTE DE MIGUEL AИGELO - RIBEIRÃO PRETO - SP
EXPOSIÇÃO HISTÓRICA EM RIBEIRÃO PRETO
COMEMORAÇÃO DOS 100 ANOS DA SEMANA DE ARTE DE 1922
A Arte moderna
que através de suas vanguardas do século XX, estabeleceu a ditadura da transgressão. Através de seus manifestos, futuristas, dadaísta, surrealistas
etc., ditavam uma nova forma de ver e do fazer artístico. Não aceitando mais entre os artistas qualquer regra
acadêmica.
Na virada do século XIX/XX os ares da modernidade
palpitavam nas mentes humanas, trazendo a tona essa exigência pelo novo, pela renovação dos costumes, como também da percepção humana. E as mentes de artistas e cientistas
inconformados com o que esta estabelecido é
que fazem a ponte para a realidade.
Se a arte e os
artistas fossem conservadores estaríamos ainda no estilo rupestre.
Se temos uma
Capela Sistina que passa a mensagem além do que a igreja queria na época e
ainda deixa mensagens subliminares precisou um artista inconformado com o clero
apesar de ser pago por ele
Se temos novas regras de proporção, perspectivas,
expressividade facial nas figuras e novas técnicas de pintura no renascimento é porque artistas como
Giotto, Van Eick, Leonardo e Michelangelo inconformados com a realidade ainda
com os resíduos bizantinos e o mundo gótico próximo ainda dos céus dourados,
mudaram totalmente o ideário imaginário da época com suas novas percepções e
experiencias.
Se temos uma
Guernica, uma LES DEMOISELLES D’AVIGNON de Picasso é porque este virou as
costas para tudo que já existia, não se perturbando de ser ridicularizado
Temos Kandinky
que virou as costas também as imagens reconhecidas pelo cérebro, trazendo o
novo ver e perceber do universo abstrato.
São tantos
exemplos que pudemos buscar na história da arte que mostram o quanto os
artistas com seus recados artísticos foram transgressores.
Uma pergunta
não quer calar:
Quando uma forma de
expressão artística se degenera e encerra um ciclo?
Resposta: Quando a transgressão quer se tornar
um status quo, quando se torna um establishment, quando passa a ser
permanentemente o novo normal, quando quer permanecer ditando, não inovando, quando
deixa de ser questionadora do passado recente. Pois ai deixa de trazer o novo
olhar e passa ser uma norma, um cânone.
O próprio
movimento da Arte moderna nos mostrou isso. Quando os artistas passaram a discriminar tudo que não fosse moderno, quando
passaram a perseguir e humilhar o que não estava dentro de seus cânones. Isso
mesmo, cânones, quando passa a ser uma receita, um ismo. Ai perde o sentido do
novo, da transgressão. Quando se torna norma a transgressão aí caímos no
previsível, no pensamento linear, e para transgredir o previsível? Eis a
questão!
Depois de 1945
os ares de cansaço das vanguardas começaram a ser sentido, ou seja, as normas
ditadas pelos artistas modernos foram caindo no lugar comum. Surgindo então daí
os movimentos Pós-Modernos.
Como seria difícil transgredir os transgressores! Que foram os artistas modernos até
então. Portanto, já estávamos férteis com um novo universo de imagens colocadas
aos olhos da humanidade por essa nova leva de artistas que permearam as
Vanguardas. Para tanto os ares do pós modernismos se apoiaram na transgressão
do vale tudo, nada a discriminar. Foi isso que os pos modernos fizeram.
Qualquer manifestação artística(?) seria válida, mesmo que ela estivesse eivada
pela arte clássica, desde que tivesse os traços do mundo contemporâneo.
Mas ai o vale
tudo descambou, perdendo-se de vista até mesmo a noção do artista transgressor.
Começando a permanecer o perfil do instantâneo, do “imediatico” (criando aqui
um neologismo) do nada....do vazio. Tivemos até uma
Bienal que assim se intitulou: Bienal do Vazio (28ª)
É isto, a arte
contemporânea caiu no vazio, e faz tempo, e o pior
que os assim se intitulam passaram a ser discriminadores do passado, tudo o que o pós modernismo não quis. Olham com ar
de superioridade qualquer manifestação que não seja do modismo que perpassam
pelas galeria e centros culturais “contemporâneos”. Pior
ainda serem fabricados da noite para o dia, artistas que são valorizados pelas
lavagens de dinheiro. Caindo por terra todo ideário da Arte, tornando
uma modinha, vazia, que se consome de um ano para o outro; sendo esquecida como
manifestação da mente humana. Logo desaparece, evapora, e nem é lembrado, salve
raras exceções, nesta sociedade altamente mediática e materialista. Nada contra
os bens materiais criados pelo espirito humano, mas apenas o vazio do esplendor
doa amor da matéria pela matéria.
Não vou
desprezar aqui manifestações pós modernas que foram muito geniais, mas devo
dizer que a porta foi aberta no período das
vanguardas mais especificamente no período dadaísta, quando a arte levou
ao extremo a ideia de transgressão, que chegaram ao extremo de proporem ate o
fim da arte e da cultura, pois revoltados e feridos pela violência do período
de guerra que a pouco tempo assolara a civilização europeia, a comunidade
artística questionavam então o valor que essa cultura humana tinha, pois apesar
de tanta evolução cultural, artística, bla, bla, bla, não tirou do ser humano o
ódio, a violência, não tornou-o mais solidário, menos primitivo nos
sentimentos.
O
questionamento levado as últimas consequências, levam a tal inconformidade propondo
então decretar o fim dessa cultura, que não serviu nem para tornar o ser humano
mais humano, reunidos pelo nome de dadaístas propuseram então decretar o fim da arte, o fim dessa cultura que não
serviu pra nada, daí os deboches e manifestações artísticas, (antiartísticas)
que tiveram como desfechos novas formas de expressão como as instalações, foto
montagem, colagens, intervenções e performances, criando obras de fundo
conceitual, as quais o mais importante é a ideia por detrás da imagem. Mudando
totalmente a concepção da contemplação do belo artístico. A arte já vinha se
refundando desde a passagem do século e chega ao seu ápice no dadaísmo.
A questão toda
que vemos em termos de criticidade histórica na dita Arte Contemporânea é a
despersonalização da arte, em sua maioria das vezes nem assinadas é , alguns
podem dizer sobre isso que a assinatura é vaidade. Valendo tudo não precisa nem
ser autoral, podendo ser gerida por uma agremiação, um grupo, pode ser um
projeto que se manda construir, ou anônima mesma, pode ser um evento que começa
e vai até se deteriorar e jogar no lixo. Portanto precisa de altos
financiamentos. O suporte de sustentação é infinito, a arte geográfica, pode
ser até no deserto ou na cratera de um vulcão. Vale tudo mesmo. Só não vale dizer
que isso não é mais como arte, que extrapolou toda ideia que temos de arte, que
são manifestações as quais poderíamos encontrar uma outra definição dentro da
cultura humana, porque além de não transgredir mais nada, por ficar na maioria
das vezes, no campo mediático, ou seja, de chamar a atenção e partir, podendo
até permanecer, mas tendo sua construção custado muitos milhões de dólares,
como na obra de Damien Hirst , refletindo a potência e poderio material. Muitas
vezes sendo financiada pela lavagem de dinheiro
Posto tudo
isso acima vamos agora entrar na Semana de Arte Moderna de 1922.
No primeiro dia da Semana de 1922 foi
declamado o poema “Pronominais” que de cara já propõe um rompante com os
Parnasianos que eram os guardiões da métrica impecável, da maneira culta de se
expressar. Propõe já uma transgressão à moda caipira.
Pronominais
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
Oswald de Andrade
Aliás grande
parte do manifesto dadaísta foi discorrer sobre as palavras:
“Não quero nenhuma palavra que
tenha sido descoberta por outrem. Todas as palavras foram descobertas pelos
outros. Quero a minha própria asneira, e vogais e consoantes também que lhe
correspondam. Se uma vibração mede sete centímetros, quero palavras que meçam
precisamente sete centímetros. As palavras do senhor Silva só medem dois
centímetros e meio.
Vemos, portanto, que esse
manifesto de 1916 chegou bem antes da Semana pelo grupo que se reuniu no Café
Voltaire em Zurique, ou seja 6 anos antes.
Assim como o Homem Amarelo do expressionismo
de Anita Malfatti foi movimento que teve seus primeiros precursores na passagem
do século, ou seja, 22 anos antes.
Assim como o cubismo de Ismael
Nery e Di Cavalcante deu-se início em 1905
Mas nada disso diminui nossos
artistas pois esses estilos depois de iniciados tiveram grande número de
artistas que continuaram a produzir obras por décadas.
A proposta de Oswald parece ter vingado,
portanto, de comer toda a arte estrangeira para pegar sua força como os índios
antropófagos faziam com os guerreiros capturados.
Na resenha de André Luís Borro
sobre o livro Tietê, Tejo, Sena: A obra de Paulo Prado, de Carlos Eduardo
Berriel “Com a Semana, a obra”, que cita: “há uma afirmação um tanto quanto
radical de Paulo Prado em relação à arte brasileira: “sempre nos aparece em
atraso de cinquenta a trinta anos todas as questões referentes à arte e à
literatura. Quando as novas fórmulas, já gastas e esgotadas, desaparecem, ou se
refugiam nos museus ou bibliotecas da velha Europa, surgem elas envelhecidas e
fora da moda nos nossos centros intelectuais” (do artigo “Brecheret”) do livro
“Tietê, Tejo, Sena”: A obra de Paulo Prado, de Carlos Eduardo Berriel
Portanto, na verdade esses artistas participantes
da Semana eram de origem de ricas famílias, da burguesia paulista. Na verdade,
já havia um saturamento da arte acadêmica da poesia parnasiana, corria se uma
onda que era mais interessante e ficava mais visível usar os rompantes
vanguardistas que sopravam do continente europeu. ... A própria burguesia já
não aguentava mais seu artificialismo intelectual.
Toda essa contraditoriedade
ideológica entre a política e a arte, mostra uma face oportunista do
brasileiro. Somos levados para onde sopram os ventos que dão status mas sem
consistências valorativas e formativas. Foi isso que aconteceu, portanto caiu
na mão de cabeças que tinham bastante profundidade e sensibilidade como Mario
de Andrade, Oswald e demais integrantes da semana, tornando bem mais fácil
buscar modelos prontos de transgressões pela arte nas Vanguardas Europeias.
É muito diferente o porquê da
criação de uma obra expressionista em sua origem dentro dos primórdios da
escola expressionista que surgiram de uma crise social e humana na passagem do
século, e de Anita Malfati que pintava à maneira expressionista. Era membro de
família burguesa, com formação em colégios internos e cursos no exterior
Muito diferente do nosso
Candinho, de nossa vizinha cidade de Brodowski que estudou ate o terceiro ano
escolar, e tudo tentou para conseguir o prêmio que o levaria a Europa para
estudar Arte. Neste ponto nos faz pensar num clamor que os cariocas sempre
fazem de que eles foram mais modernos que os paulistas, mas nesse episódio do prêmio
que Portinari recebeu prêmio do Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro
nos mostra algo ao contrario, não estamos aqui falando da relevância de cada um
desses estados em termos de arte.
Na primeira tentativa de Candinho
em 1924, Portinari envia 9 retratos acadêmicos mais o “Baile na roça” de estilo
muito mais espontâneo, mais expressionista, com pinceladas a la primma. Para
sua surpresa foi aceito os nove retratos acadêmicos e o Baile na Roça foi
devolvido. Portinari ficou com isso entalado na garganta por um bom tempo. Em
1928 enviou o retrato de Olegario Mariano, seguindo os moldes academicistas,
então conseguiu o prêmio de viagem ao exterior. Sendo mantido pelo poeta Olegário
Mariano, Portinari escreve-lhe uma carta onde lamenta-se disso.
“Continuo cheio de saudades de
todos de nossa casa. Isso aqui é muito bom, muito gostoso, mas quem nasceu aí,
não pode viver muito tempo fora
O Brasil é mais bom, muito
mais. Depois, a gente se lembra de tudo e de todas as coisas desarranjadas do
Brasil, da terra da gente – das igrejas sem estilo, daquela gente boa que não
sabe ler… Aqui é tudo arrumadinho, as igrejas dos lugarejos mais bestas são de
estilo puro. O pessoal daqui sabe os direitos que tem. Oh! coisa sem sal…
Estou com uma saudade danada
de todos de nossa casa”.
E em outra carta diz:
Vou pintar aquela gente com aquela roupa e com aquela cor…
Portinari filho de família de imigrantes tinha a simplicidade de pessoa do interior. Seu traço expressionista com influencia do cubismo que estudou pelos museus de Paris quando de sua viagem prêmio. Faz um estilo moderno visceral baseado em sua personalidade e em suas origens simples.
Enfim o que continuamos a ver na arte neste nosso pais são manifestações hipócritas onde instituições culturais que colocam a arte contemporânea acimas de qualquer manifestação do passado, principalmente as modernista, portanto o nascedouro dessas novas vertentes contemporânea surgiram na arte moderna mais especificamente no período dadaísta, entretanto com variações que permeiam as outras escola das vanguardas.
Sentimos nesse emaranhado de proposições com facilidade o que quer ser apenas mediático, mas ainda se fazem nos nossos dias obras marcantes de conteúdo que atingem nosso amago, que permanecem dentro de nos modificando-nos o conceito de mundo como por exemplo a “Noite estrelada” de Van Gogh, Guernica de Picasso, “O grito” de Munch e quantas mais poderíamos citar, mas podemos buscar obras no período clássico também como uma Vênus de Milos, ou um Apolo de Belvedere, um David na Renascença. Enfim tantas obras que ficam entranhadas em nosso inconsciente coletivo tornando-se geradoras de concepções e imaginações estéticas dentro de nossa história de vida.
O que não podemos fazer é incorrer no erro que muitos dos contemporâneos passam a cometer querendo criar uma ditadura de obras conceituais mediáticas, a vida como lapso de tempo já vivenciamos cotidianamente em nossas atividades de trabalho e laser, precisamos do contemplativo, do menos conceitual, da paisagem imaginaria que entra e fica e nos deixa respirar.
Na carta de abertura de Graça Aranha tem todas a propostas que vingaram tanto nos artistas modernos como contemporâneos, na verdade vivemos ainda o moderno sob novas facetas
Aí que entra então
a Semana de Portinari, que, quando acontecia, chamava meus alunos em peso para
compartilhar dessa festa ao grande artista brasileiro. Na pintura mural eu tinha que
funcionar como um maestro. Pensava num tema pictórico e subdividia os espaços e
as funções para execução de cada um.
Sendo
convidado há vários anos para participar, acabei criando muitos amigos na
cidade e com todo o pessoal do Museu. A valorização da Arte e dos artistas
estabelecida a tantos anos pelo projeto de fomento da ACAM - Associação
Cultural de Apoio ao Museu Casa de Portinari, me faz sentir orgulhoso e
homenageado indiretamente pela maneira que é proposta a Semana. Onde o mais
importante é a participação aberta e de coração a todos que quiserem prestigiar
a Arte. Não há politicalhia, ou concepções teóricas demagógicas que privilegia
esta ou aquela maneira de fazer arte. Deixando de lado os vícios teóricos e
críticos. Apresentando-se como uma Festa das Arte, simples assim e
ponto.
Para fazer a
ligação de tudo que foi dito acima com a frase do Amêndola, “Arte é um segredo
que é passado de mão em mão”, podemos dizer em relação a isto que o que o Museu e
sua administração faz é construir pontes para os novos artistas para ali buscarem num
mesmo lugar sua expressão artística, pela convivência, interatividade e ainda a
valorização da Arte pela Arte. Podendo assim se situarem sem obstruções críticas e
desdéns intelecto-ideológicos. Sendo também um verdadeiro fomento para a criação de
novos admiradores, amantes da cultura e possíveis novos artistas. Passando da
memória de Portinari que esta impressa em cada tábua do assoalho e em cada parede agora milimetricamente preservada nesta grandiosa “capela da arte” Museu Casa de Portinari,
para nossas futuras gerações .
A obra fotografada na reportagem acima “Infância”, não sobrou também nenhuma foto dela a não ser a da reportagem. Retrato uma criança com um carrinho de brinquedo atado a um cordão na mão, que era brinquedo recorrente de minha infância, e uma bola de futebol ao lado. A criança olha para uma casa que esta a sua frente.
A
casa lembra um rosto onde a boca é uma porta fechada e as janelas os olhos. Dessa porta sai uma
estrada que passa ao lado da criança. Ao lado da casa tem uma outra casa com
uma cerca de arame onde se pendura uma nota musical. Por trás destas casas em primeiro plano, tem prédios, uma lua, morros no horizonte, uma estrada que sai da casa, que seria a
continuação do caminho da frente. Uma pipa no céu e ainda um poste de luz.
Esta obra nos traz reflexão sobre a vida. Talvez a criança seja eu mesmo, que esta diante ao momento de encarar a vida adulta e deixar os brinquedos para trás.
Reforçando talvez uma ideia sobre mim mesmo, me
colocando no lugar da criança, olho pra vida que vem pela frente mas não encaro
ir pelo caminho que leva a porta, que esta trancada e que talvez precise de muito
esforço para abri-la. Tem a segunda opção da casa com a nota musical pendurada na cerca, que
talvez seja a opção pela arte, talvez a cerca possa ser
de maneira figurada o aprendizado artístico.
A criança parece paralisada e olha perplexa para o que vê pela frente. Momento de decidir pra onde ir. Há também a opção, se conseguir transpor a casa “cara” tem um caminho que leva aos montes e a lua, simbolizando a poesia e a elevação do espirito.
Mas fica uma pergunta: O que teria dentro desta casa trancada? O difícil aprendizado que nos dá o viver para ser igual a todos?
Enfim cria-se bastante indagações e reflexões nesta
obra. Coloque a tua interpretação abaixo
A ARTE ABSTRATA
Não quero aqui tecer consideraçõos históricas da estética abstrata,
e sim apenas registrar observações vivenciadas ao longo de meu trabalho artístico
em relação a essa estética Artistica.
Fiquei inspirado em escrever este texto após colocar uma obra
em redes sociais, um painel que estava por acabar e pedi ali na minha postagem pra que
decidissem o lado que deveria ficar a obra. Colocando duas fotos para optarem.
O que é o ABSTRATO?
Vamos ver o que diz os dicionários:
O que não é concreto; Que existe só na imaginação; Que inexiste; etc.
As imagens dessa obra não tem formas referenciais da realidade, nem nenhuma
figuração explicita, encontra se quadrados, círculos, triângulos, polígonos irregulares
etc, além de outas formas orgânicas que são indefinidas.
Na execução do painel segui minha percepção de harmonia e
contraste através de sentimentos de imagens que sugerem ao espirito meu estado
do momento. Ora serenas, ora nostálgicas, ora agitadas. Sendo, na verdade, sempre
uma fuga da realidade ficar imprimindo numa tela seu momento interior,
conversando consigo mesmo, dando satisfações de meu viver para mim mesmo escrevendo
abstratamente na tela
Tem a hora também da contemplação do todo, ou seja:
O que esta fora do contexto?
O que esta gritando?
O que precisa gritar?
O que não esta claro (adjetivo)?
O que esta claro demais (substantivo)?
Qual é o sentido? Sentindo em mim o todo (da obra)
Condiz com meu sentido (sentimento) momento?
Levando então a algumas alterações em alguma parte para
mudar o sentido, sentimento. Fazendo isso várias vezes durante a elaboração da
obra
Um exercício de meditação abstrata com elementos puros dos sentidos ...sentimento.
Elaborando fora elaboro por dentro
Quando fiz a pergunta sobre o lado que gostariam que ficasse
fiquei surpreso com os sentidos e sentimentos que cada um expressou, pois o
abstrato, (sem sentido), é percebido com vários sentimentos. Vamos dar uma olhada
em algumas expressões:
Miguel me chamou mais atenção a 1,
por conta dos traços vermelhos no canto direito superior. Quem sou eu pra
opinar, mas é sempre bom o olhar de quem não entende nada de obras de arte,
assim como eu, mas se encanta e tem sua atenção despertada por um detalhe que
muitos não observam
Acho a 1 mais harmônica, com mais
equilíbrio
O caos fica no meio , nas duas
posições ! Resta saber se vc. quer a Paz no começo ou no final ... !
Eu não gosto de dar palpites mas já
que vc pediu aproveito pra dizer que o vermelho pediu muito pra um lado. Em
todo caso fico com a posição 2
2 direita base para esquerda leve fly
passando pela hidroelétrica de furnas!
Gosto do 02, abaixo, aquela luz que
está acima na esquerda fica, (no meu entendimento), melhor como sol.
Lindo, lindo
Dos dois jeitos. O seu desenho tem um
equilíbrio maravilhoso. Acho que devo chamar de abstrato. Não sei se posso
chamar assim.
Miguel meu amigo
Quando coloquei na horizontal e
vislumbrei vi vestígios da uma Civilização Antiga que a partir da foto foto
coloriu.
Que coisa estranha.
Parabéns esta magnífico!
Notem, pelos comentários, os sentido e sentimento produzidos!
Não tive professores de arte, fui autodidata a vida toda no exercício
pictórico, mas tive amizades e conversas fantásticas com grandes mestres da
arte de nossa cidade como, Pedro Manuel, Amêndola, Canova, Vaccarini e Leopoldo
Lima. Nessas conversas extrai deles tudo que me tornou fazedor de Arte.
Lembro me do Amêndola falando, "Vira de cabeça pra baixo", "Olha
esse pedaço isolado do resto"...etc. Com o tempo fui percebendo que uma obra abstrata
é forte e atraente aos olhos quando ao colocá-la dos quatro lados os olhos
gostam em todas posições.
Fora isso fui um estudante voraz de estética e História da Arte, apesar de tudo isto concluímos que, a arte esta fora quando esta dentro,
que sentir faz sentido e sentido faz sentimento. São coisas básicas que está na
vida de todos, pois mora na alma que vive dentro de cada um. Basta se permitir.
Não precisa estudar nada, alias os estudos só referendam isto.
As observações dos amigos que se manifestaram demostram
isso conforme listados acima.
É um trabalho abstrato, isto é, não quer contar nada, não
quer mostrar nenhum objeto real ou ser da natureza, ou lugar, ou paisagem
Mas revela sentidos diferentes, conta histórias do interior
de cada um, cria pontes de percepção com a existência (sentido). Não quer contar nenhum
acontecimento, mas faz acontecer aos olhos que encaminham ao coração e à mente, ai
criando sentido, sentimento,,, existência.
O lado que a maioria apontou foi a posição 1. Vou fortalecer alguns elementos plásticos apontados pela maioria do lado direito acima e finito.
Grato a todos
MIGUELAI/IGELO
DOIS MINUTOS E QUARENTA SEGUNDOS
Dois minutos e quarenta segundos, exatamente isso! O tempo de meu ovo ficar no ponto exato depois que começa a ferver de manhã quando ponho na leiterinha para ferver. Demorei alguns dias pra chegar a esse tempo, depois que me meti a curtir um ovo quente pela manhã. Tentativa e erro. Sincronizando e marcando ate chegar ao ideal. O ideal para meu gosto, mas cada um tem seu gosto, seu tempo, seu tipo... seu porquê.
Parece uma coisa boba começar falar sobre uma coisa tão corriqueira. Mas com essa experiência boba me remeti a tantas situações que vivi automaticamente, que realizei, que aperfeiçoei e não me dava conta que nesses tipos de situações, estão toda essência da evolução, da cultura, da ciência, da filosofia... etc., humana. Ou seja, todo o processo civilizatório.
Os dois minutos e quarenta segundos que tenho que ficar esperando o ovo cozer no ponto que eu quero, fico com a mente na condição de expectativa, nos últimos vinte segundos olhando o cronometro e ao mesmo tempo absorta durante um pouco além dos 2 minutos. Esse poco tempo absorto a cabeça vai longe. Mas começa no perto, ali mesmo, no ateliê. O que temos para o dia? Muitas vezes uma obra nova ou uma nova obra, uma restauração encrencada na mesa, uma arrumação diferente, etc. Aliás o ateliê é uma fábrica de desafios.
Quando tem uma obra nova no cavalete venho já de dentro ruminando saídas para continuar de onde parei, mas muitas vezes tudo muda quando confronto depois de muitas horas fora do contato visual do trabalho iniciado. Minha ideia preconcebida do dia anterior de onde parei, muda ao contemplar assim que avisto novamente. Encontro ângulos que não tinha percebido, formas, matizes, histórias, desejos, sonhos esquecidos, etc., que a combinações guardadas pela noite me vislumbram no retorno do dia.
Quando está em plano uma nova obra nos minutos do ovo fico imaginando o que poderia fazer de novo. Já fiz tantas coisas... montar novas composições de figuras de cores? explorar a plasticidade de novas formas atadas a nuances de cores, de sombras, de luz? Ou tentar contar algum sentimento presente, alguma preocupação? ou uma história feliz?
Dois minutos, as vezes e dez segundos, as vezes e trinta segundos e as vezes quando vejo, fiquei tão absorto nas minhas traquinas mentais que o cronometro já passou dos dois minutos e quarenta segundos. Ai corro e desligo rápido, retiro com uma colher o ovo e ponho debaixo da água da torneira para esfriar. Mas dependendo do dia, a mente não esfria do assunto que tratava para o dia no ateliê.
Quando tem uma encomenda com tema escolhido, fico conjugando varias imagens na mente imaginando-as elaboradas na tela. Arquitetando o tema com cores e formas.
Quando está em pauta uma restauração encrencada... ufa! As vezes tenho que resolver a invenção de uma ferramenta auxiliar ou toda uma engenharia de manejo para solucionar situações delicadas. Aqueles dois minutos e pouco ficam ruminando uma resposta, que ali naquele tempo não vem. Mas quando a pergunta fica bem formulada para o inconsciente na hora que estou de frente com o problema vem o estalo, a eureca.
Incrível, mas tudo tem a ver com a observação do tempo certo do ovo.
Em todas as situações a mente criativa ou laborativa tem seu tempo de deixar no ponto o que você pretende, o que você busca. Como também todo o processo de busca de uma solução para cada problema. A depuração até chegar num modo de resolver da melhor maneira.
A vida é uma construção de experimentos e experiências. As experiências acumuladas te dão competência para solução de novos problemas. Muitas vezes a gente quer que abra a porta, mas não pesquisamos as palavras mágicas. Essa é a razão da mente bárbara querer vencer na força. A inteligência vence qualquer tipo de força bruta. Aliás a história da civilização esta permeada de situações de tentativas e erros, mas sempre tem alguém pra receber um eureca ou uma maçã caindo na cabeça. A própria palavra civilização é auto explicativa disso. Somos civilizados na medida que criamos os rudimentos de convivência e bem estar comum. E isso foi um longo processo de adaptação ao meio, aliás é um processo sem tempo pra acabar. Quanto mais civilizados mais queremos ser, mesmo que ainda os bárbaros tentem romper com violência esse processo. A civilização sempre vence.
A obra pronta muitas vezes é linda ou causa estranheza, mas por trás de qualquer sentimento que produza em quem a contemple pronta, existe a laboração interna e externa, de tal maneira que as duas se acertem no tempo do cozimento da obra. E esse tempo é o momento do artista, que não sabe viver sem ter no seu tempo a matéria viva que ao cozinhar em seu âmago, alimente seu viver.
Quem nasceu primeiro? O ovo ou o pintinho? eis a questão. O ser ou o vir a ser? Old questions...
MIGUEL AI/IGELO