Para pintar um quadro à maneira impressionista é necessário se munir com o espírito de um pintor que gosta de pintar ao ar livre e captar as cores e os efeitos de luz a sua volta. Poderíamos dizer que não é um quadro pensado e sim vivído. Pois não há margens para suposições ou questionamento. Não há margens para pintar certo ou errado. A parte do cérebro que nos faz ter o juízo das coisas deve ficar vendada. A atitude do pintor, do começo ao termino do trabalho, deve ser sensitiva, onde somente os sentido deverão comandar as mãos, principalmente o sentido visual.
O primeiro passo é o de achar a cena, que deve agradar aos olhos, ou melhor, deve causar deslumbramento, algo próximo da região cerebral que nos de sensação de prazer. Poderíamos dizer o prazer estético. Para tanto devemos nos despir um pouco de nossas preocupações, nosso senso de ridículo, nossos pensamentos prontos para cada coisa. Devemos perder o juízo e ver as coisas como se fosse a primeira vez, como uma criança diante a algo agradável pela primeira vez.
Ao iniciar o trabalho, o mundo exterior deve ceder lugar somente ao universo do que vai ser transportado para a tela. A vida somente vai gravitar em torno do tema durante a seção de pintura.
Como quem vai para uma aventura temos que nos preparar. Juntar nossos equipamentos, prevendo todas as situações que poderão ocorrer na viagem. Devemos estar prontos para tudo, para aproveitar o máximo e não perder um segundo sequer dessa viagem.
Para tanto, devemos deixar prontos: o cavalete, com a tela bem segura sobre ele; as tintas, com fartura e por cor, disposta na paleta com bom espaçamento de uma para outra.. As cores não precisam passar das primárias, quanto muito as secundárias para não perder tempo em fazê-las, mais o carmim. Dispô-las na paleta de maneira que fique frente a frente as complementares, e lado a lado as primarias, na seqüência da mais clara (amarela), passando pela intermediaria (vermelha), até à mais escura (azul). De tal maneira que tudo esteja pronto, para não perder tempo. Os pinceis, prefira na maioria mais largos, de numeração maior. Poderão ser chatos ou redondo depende da sua habilidade. Mas se preferir chatos tenha um de tamanho médio redondo. Se preferir redondo tenha um de tamanho médio chato. Deixe próximo dos pinceis uma espátula media que poderá lançar mão o tempo todo para carregar as tintas
Tenha em mente que esse tipo de pintura não admite erros, pois isto é coisa do cérebro e não dos sentidos. Quero dizer: não existe errar nesse tipo de pintura.
As cores devem ser misturadas na tela, não na paleta. A paleta é só suporte da tinta, o suporte das cores é a tela.
A atitude do artista diante ao modelo e sua tela deve ter um transito direto, sem curvas, dos sentidos para o impulso da mão com o pincel ou espátula. Percebeu, marcou a tela, mesmo que não acerte de primeira, depois volte e coloque de novo a tinta, mas sempre rodando todos os pontos do modelo com os olhos, pois são eles que comandam as mãos. Pensar só com as mãos e com os olhos, ou seja, visceral e instintivamente. Proibir o juízo de feio e do bonito. Contemplar só no dia seguinte.
Miguel Angelo Barbosa