quarta-feira, 1 de março de 2023

CÉZANNE

Cézanne vinha de família rica, o pai era banqueiro, podia se dar ao luxo de se refugiar em sua casa de campo e ficar ali pintando o que quer que seja. Não pintava para agradar a ninguém, pintava para exteriorizar sua essência de percepção e meditação sobre o mundo a sua volta.

Esse virar as costas à ideia concebida da arte como embelezamento decorativo começou ali com Courbert que nãos se interessava mais por ser um pintor para agradar a corte, a religião e as casas finas da burguesia com suas pinturas de gênero como por exemplo as naturezas mortas, as quais seguiam as convenções pictóricas da arte acadêmica.

Muito dentro deste espirito Cézanne pintava para ele mesmo, sem ter a aflição de um Van Gogh, que sentia se sempre um devedor de seu irmão Theo.

Isso fez toda a diferença no produto final de uma época na Historia da Arte.

Sua falta de ambição foi ambiciosa numa época ávida de mudanças

Podia sim pintar uma natureza morta (gênero que estava sendo abandonado em sua época) Mas com ele deixou de ser um a pintura de gênero, pois conforme ele mesmo dizia “uma maça não é mais uma maçã depois de pintada” a pintura criava uma nova realidade, a realidade plástica com valor em si, sem a referência da realidade existencial.

Saindo deste pensamento os primórdios e a essência da Arte Moderna, as atitudes posteriores  ficaram gravadas em forma de obras de arte, sendo ele o gerador de toda mudança de percepção da geração seguinte, a qual revolucionou a arte, ou seja, as Vanguardas do século XX. Vamos agora as pinceladas

Os impressionistas já tinham libertado a pincelada trabalhada, ou seja, aquela que os mestres do renascimento tinham ensinado nas academias, o sfumatto, para a pincelada alla prima, a qual era esgrimada, visceral. Cézanne compreendeu isto muito bem, portanto, adicionou o fator reflexivo. Parece paradoxal isto né? Como a pincelada alla prima que é espontânea, visceral.., pode ser reflexiva?

Pois é. Cézanne fazia isto. Segundo registros de relatos de seus amigos da época, diziam que ele passava as vezes horas focado no seu trabalho, portanto sem dar uma pincelada, a qual saia depois de refletindo muito tempo. Mas quando tomava a decisão fazia de maneira espontânea e certeira.

Paradoxal isso , não é?

Mas ai está a genialidade deste mestre da pintura. Como se reunisse forças como um carateca para quebrar um grande volume numa só pancada.

Um de seus amigos, o marchand Ambroise Vollard fala desta sua introspecção diante sua tela e quando acontecia uma pincelada era na sua maioria na posição diagonal.

Esse é o resultado final de uma obra acabada de Cézanne. Vemos as pinceladas marcadas (alla prima) mas ao mesmo tempo parece que foram demarcadas com exatidão no espaço tempo de sua tela, em um universo concebido integralmente pela introspecção de Cézanne 

A pincelada de Cézanne cria a ideia do difuso, ou seja, aquilo que é, sem ser, aquilo que dá margem para pensar além do que estamos vendo, abrindo uma janela para você tentar unir o real ao imaginário, ou seja, a divagação...

Explicando melhor: você olha a maçã pintada sobre uma mesa e quanto mais você olha aos poucos deixa de ser uma maçã e passa a ser uma massa de cores esculpidas com pinceladas desencontradas. Cada pedaço passa a ser um espetáculo com valor em si mesmo, esquecemos aos poucos o entorno, a mesa, a toalha, a maçã... o lugar. 


Intuitivo, casmurro... a frente de seu tempo. Graças a ele tivemos um genial Picasso com o caminho aberto por Cézanne, referindo-se a ele sempre como "o pai de todos nós"